sábado, 24 de maio de 2025

Em que Teoria da História podemos acreditar?

Por David Langness.


Como funciona a história? Quando os historiadores analisam as idades da humanidade, como explicam o nosso progresso — ou a falta dele? Que forças impulsionam a história?

Eis a questão principal, que abrange todas as outras questões sobre o estudo da história: como damos sentido ao passado?

Responder a estas questões complexas sobre a história humana significa criar uma explicação compreensível e racional dos acontecimentos, estruturas e processos que nos possam dizer como e por que razão passámos das cavernas para os arranha-céus.

Os historiadores há muito que tentam responder a estas questões — desde os antigos filósofos gregos. Literalmente, centenas de teorias e filosofias da história foram propostas ao longo dos séculos. A maioria dos cursos de nível universitário sobre história mundial condensa todas estas teorias em seis categorias principais:
  • A Teoria Cíclica, onde a história se repete sem fazer qualquer progresso real
  • A Teoria Linear, onde o mundo melhora e progride constantemente
  • A Teoria do Grande Homem, que afirma que a história é impulsionada pelos grandes homens
  • A Teoria do Homem Comum ou do Povo, que afirma que a história é moldada por pessoas comuns
  • A Teoria Geográfica, que propõe a geografia como destino
  • A Teoria Marxista, que afirma que a história é uma contínua da luta de classes
Nesta série de artigos, examinaremos brevemente as verdades subjacentes a todas estas seis teorias relevantes, e tentaremos explorar quais delas se ajustam melhor à nossa compreensão contemporânea da história humana. Examinaremos também uma sétima teoria singular, apresentada pela primeira vez nos ensinamentos Bahá’ís, que desafia todas as percepções existentes da história e segue um caminho completamente diferente para explicar a evolução da civilização humana.

Estão preparados? Então vamos a isto — comecemos pelo princípio.

A teoria cíclica da história afirma, basicamente, que as pessoas repetem invariavelmente uma série de padrões recorrentes. Os mitos de muitas culturas antigas promoviam esta concepção não linear da história e do tempo, afirmando que a história oscilava para a frente e para trás, repetidamente, entre Idades das Trevas e Idades de Ouro alternadamente. A teoria cíclica afirma que as civilizações ascendem e caem pelas mesmas razões básicas — por outras palavras, a história repete-se infinitamente. Tal como a natureza, várias sociedades humanas passam por padrões de desenvolvimento idênticos em ciclos que se repetem periodicamente.

Historiadores gregos como Heródoto, Tucídides e Políbio acreditavam na teoria cíclica da história, onde não se verifica qualquer progresso real — na verdade, o progresso, de acordo com este conceito, é um mito:

A história é uma roda, pois a natureza do homem é fundamentalmente imutável. O que aconteceu antes, inevitavelmente voltará a acontecer. (George R.R. Martin)

O que é constante na história é a ganância, a insensatez e o amor ao sangue, e isso é algo que até Deus — que sabe tudo o que pode ser conhecido — parece impotente para mudar. (Cormac McCarthy)

A teoria cíclica sustenta que a natureza humana — seja ela boa ou má — determina sempre a história. Aqueles que defendem a teoria cíclica diriam que a natureza humana nunca muda; e, por isso, a história também não pode mudar, registando assim muitos ciclos repetitivos de realizações e loucuras humanas.

Os grandes filósofos gregos — Sócrates, Platão e Aristóteles — defendiam todos uma variante da teoria cíclica da história. Na Atenas antiga, porém, provavelmente consegue compreender porquê — a sociedade humana ainda não tinha progredido muito e estava nos primórdios da civilização moderna. Ainda atormentada pela escravatura, pelas guerras constantes e pelos índices de escolaridade muito baixos, a cultura ateniense testemunhou o primeiro florescimento da civilização ocidental — mas ainda tinha um longo caminho a percorrer.

Talvez isso ajude a explicar a teoria cíclica da história, que não exigia uma resposta sofisticada à questão de dar sentido ao passado. Em vez disso, baseava-se no que se sabia na época sobre o carácter humano e reconhecia o facto de que todas as pessoas terem as mesmas escolhas essenciais — ser nobre ou vil, bom ou mau, generoso ou agressivo. Estas escolhas, sustenta a teoria cíclica, determinam a história humana e será sempre assim.

Os ensinamentos Bahá’ís atribuem alguma verdade à teoria cíclica, pois os ideais Bahá’ís centram-se nos nossos traços de carácter pessoal e nas nossas virtudes, ou na falta delas. Os Bahá’ís acreditam que estes traços, no seu conjunto, podem ter um impacto profundo na civilização em geral:

Em suma, o homem está dotado de duas naturezas: uma tende para a sublimidade moral e para a perfeição intelectual, enquanto a outra volta-se para a degradação bestial e para as imperfeições carnais. Se viajardes pelos países do globo, vereis de um lado os vestígios da ruína e da destruição, enquanto do outro vereis os sinais da civilização e do desenvolvimento. Essa desolação e ruína são o resultado de guerras, conflitos e disputas, enquanto todo o desenvolvimento e progresso são fruto das luzes da virtude, da cooperação e da concórdia. (Selections from the Writings of 'Abdu'l-Bahá, nº 225)

Mas a teoria cíclica da história não se enquadra inteiramente no modelo da história que se encontra nos ensinamentos Bahá’ís, porque os Bahá’ís acreditam definitivamente que a sociedade humana pode progredir:

A educação humana, no entanto, consiste na civilização e no progresso, isto é, governação sólida, ordem social, bem-estar humano, comércio e indústria, artes e ciências, descobertas importantes e grandes empreendimentos, que são as características centrais que distinguem o homem do animal. (‘Abdu’l-Bahá, Some Answered Questions, newly revised edition, p. 9)

No próximo artigo desta série, examinaremos a Teoria Linear da história, a ideia de que o nosso mundo melhora e progride constantemente.

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Texto original: Which History Do You Believe In? (www.bahaiteachings.org)

 
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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site BahaiTeachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.

sábado, 17 de maio de 2025

Lidar com as minhas emoções enquanto a morte me aguarda

Por Mahin Pouryaghma.

Enquanto escrevo este texto no meu lar de idosos, após o meu diagnóstico de cancro no nível 4, estou a sentir-me abençoada porque a pior dor do cancro ainda não me atingiu, e estou a viver uma vida normal. Louvado seja o Criador!

Mas hoje sinto-me tão triste! À medida que envelhecemos e nos aproximamos da nossa transição para o outro mundo, somos frequentemente atormentados por testes e provações mentais e físicas muito difíceis.

Aqui no lar de idosos, estou a fazer novas amizades. Estamos todos na mesma fase das nossas vidas físicas, por isso temos muito em comum. Nas últimas semanas, eu e alguns amigos meus almoçamos juntos no refeitório para os residentes em “cuidados especiais” – o que inclui aqueles que sofrem de demência em diferentes graus. A minha nova amiga, a mulher mais próxima de mim e paciente de cuidados especiais, é muito instruída, deu aulas na faculdade, fala francês e inglês e até escrevia uma coluna para os jornais.

Nos seus dias lúcidos, tínhamos óptimas conversas, mas durante os últimos dois dias a sua raiva, frustração, paranoia e agressividade com os cuidadores aumentou perigosamente. Foi relatado que ela estava a falar em suicídio ou talvez em agredir outras pessoas. Assim, hoje almocei com ela, esperando ser útil.

Ao almoço, ela não foi hostil ou indelicada comigo, mas comportou-se dessa forma com todos os outros. Depois de ter regressado da consulta médica esta tarde, disseram-me que ela tinha sido transferida para um hospital psiquiátrico, com a expectativa de lá ficar alguns meses, ou talvez para sempre. O lar de idosos onde resido agora não consegue lidar com os tipos de problemas que estão a ocorrer na sua mente.

Estes tipos de problemas mentais, juntamente com as inevitáveis doenças físicas que acompanham a idade, geralmente afectam os idosos nas últimas fases das nossas vidas físicas, e podem trazer-nos as maiores provações psicológicas e espirituais.

No entanto, sinto-me confortada pelo facto de os ensinamentos Bahá’ís se referirem a estas provações como doenças puramente mentais e físicas. Bahá’u’lláh, quando questionado sobre tais enfermidades e os seus efeitos na alma, afirmou:

Perguntaste-Me se o homem, para além dos Profetas de Deus e dos Seus eleitos, após a sua morte física, manterá a mesma individualidade, personalidade, consciência e compreensão que caracterizam a sua vida neste mundo. Se for este o caso, como é que, observaste, que ferimentos tão ligeiros nas suas faculdades mentais, como desmaios e doenças graves, o privam da sua compreensão e consciência, a sua morte, que deve incluir a decomposição do seu corpo e a dissolução dos seus elementos, é impotente para destruir esse entendimento e extinguir essa consciência? Como pode alguém imaginar que a consciência e a personalidade do homem se manterão, quando os próprios instrumentos necessários à sua existência e função estarão completamente desintegrados?

Sabe que a alma do homem está enaltecida acima e é independente de todas as enfermidades do corpo ou da alma. O facto de uma pessoa doente apresentar sinais de fraqueza deve-se aos obstáculos que se interpõem entre a sua alma e o seu corpo, pois a própria alma permanece inalterada por quaisquer enfermidades corporais. Considera a luz da lâmpada. Embora um objeto externo possa interferir com o seu brilho, a própria luz continua a brilhar com um poder inalterado. Da mesma forma, toda a doença que aflige o corpo do homem é um obstáculo que impede a alma de manifestar a sua força e poder inerentes. Quando abandona o corpo, porém, evidenciará um tal ascendente e revelará uma tamanha influência que nenhuma força na terra pode igualar. Toda a alma pura, refinada e santificada estará dotada com um enorme poder e regozijar-se-á com uma imensa alegria. (Gleanings, LXXX)

Estou feliz por ser este o caso, embora me sinta intensamente triste, incapaz de a voltar a ver e nem sequer de me despedir dela. Vou sentir muito a sua falta, e sinto que este lugar sem ela não será o mesmo para mim.

Mas agora: é tempo de pânico para mim! Esta noite, senti dores no lado direito do abdómen, exactamente onde, se for devido a um cancro no fígado, provavelmente se manifestaria. Depois tomei alguns medicamentos ligeiros de venda livre e a dor desapareceu quase completamente. A dor pode dever-se a problemas no meu cólon ou estômago, e como a dor não aparece de forma consistente e permanece comigo, então sei que o meu pânico é em vão.

Percebo que a minha luta é comigo mesma.

Aqui, chegando ao fim da minha existência física, digo a mim mesma que estou pronta para tudo e confiando apenas na Vontade de Deus - e, no entanto, temo a dor do cancro. Então, estou verdadeiramente a confiar em Deus ou não estou realmente a confiar n’Ele? Este não é um lugar emocional ou espiritual confortável para mim. As minhas emoções estão a brincar comigo, colocando-me num ciclo de medo e aceitação.

Apesar de tudo isto, percebo que sou muito abençoada por ter a força da minha mente racional, que me ajuda a evitar imaginações vãs e ociosas. Espero manter-me firme na minha crença de que o Criador cuidará de mim até ao último suspiro, como Ele fez durante toda a minha vida, e moderar a oscilação das minhas emoções.

As minhas emoções!

Por todas estas razões, sinto-me tão sozinha esta noite e apetece-me chorar. Sei que estes sentimentos passarão rapidamente, e voltarei a ser eu própria. Vou sair do meu quarto e provocar os outros residentes e cuidadores com as minhas piadas.

E isto fez-me lembrar outra coisa: tenho um plano maravilhoso para a minha viagem de regresso a casa. Já comprei o meu caixão, e é lindo, mas agora mudei de ideias e quero trocá-lo pela versão dupla. A razão? Bem, eu sei que é um longo caminho daqui até ao outro mundo, e não quero passar fome no caminho, por isso vou encher o resto do caixão com muitos chocolates, talvez uma pizza grande de massa grossa com tudo lá dentro, e um grande copo de gelado Oreo Blizzard.

Obrigado por me ouvirem. Agora estou a sentir-me muito melhor e vou provocar os outros.

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Texto original: Dealing with My Emotions as Death Awaits (www.bahaiteachings.org)


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Mahin Pouryaghma, tem quase 87 anos, e é iraniana. Desde 1964 que vive na América do Norte e actualmente vive em Marshallville, Geórgia. Mahin comprometeu-se com a Fé Bahá’í desde os seus 30 anos, com o objectivo de servir Deus servindo a humanidade.

sábado, 10 de maio de 2025

O que significa o “Regresso” de Cristo?

Por Christopher Buck.


Agora vamos falar sobre o regresso de Cristo — e ver se conseguimos descobrir o que a palavra “regresso” realmente significa. É literal ou simbólica?

Isto pode parecer uma pergunta disparatada. Porquê? Porque cerca de dois mil milhões de cristãos no mundo de hoje acreditam que o regresso de Cristo significa que o próprio Jesus Cristo regressará à Terra, derrotará Satanás e reinará durante 1000 anos. Vários cristãos propõem cenários diferentes para este drama do fim dos tempos, mas os elementos básicos são os mesmos.

Então porquê esta questão, especialmente se o regresso de Cristo é inquestionável para dois mil milhões de cristãos? Para reconsiderar o que realmente significa o “regresso” de Cristo, temos de nos afastar do entendimento universal dos cristãos no passado e no presente. Os ensinamentos Bahá’ís apresentam uma perspectiva diferente.

Os ensinamentos Bahá’ís dizem que uma das melhores formas de compreender o regresso de Cristo é compreender o “regresso” do profeta Elias. Qual é a ligação, perguntam você? É a própria noção de “regresso”.

Deixem-me contar-vos uma história de como cheguei a este entendimento. Embora mais tarde tenha obtido um doutoramento na área da religião da Universidade de Toronto em 1996 (graças ao apoio e incentivo da minha querida esposa, Nahzy), nem sempre fui um académico. Tornei-me Bahá'í quando tinha 22 anos, a 15 de dezembro de 1972. Tinha-me licenciado no início desse ano na Pacific Lutheran University (PLU) em Tacoma, Washington.

Tendo sido educado como cristão — temendo a Deus e a Satanás ao mesmo tempo — tinha algumas dúvidas persistentes sobre se Bahá’u’lláh era de facto o regresso de Cristo, como afirmam os Bahá’ís. Afinal, a salvação da minha alma estava em causa. Esta era uma questão de vida ou de morte para mim, espiritualmente falando.

Nessa altura, estava a ler o livro Respostas a Algumas Perguntas, no qual 'Abdu'l-Bahá responde a perguntas que lhe foram feitas por uma Baha’i no início do século XX. Eis o que li, agora numa nova tradução, no Capítulo 33:

O Regresso dos Profetas

Pergunta: Pode explicar o assunto do Regresso?

Resposta: Bahá’u’lláh apresentou uma longa e detalhada explicação sobre este assunto [no Livro da Certeza]. Leia-o e a verdade sobre este assunto tornar-se-á clara e manifesta. Mas já que levantou a questão, uma breve explicação será também aqui apresentada.

Começaremos as nossas observações com o texto do Evangelho. Está ali registado que, quando João, filho de Zacarias, apareceu e anunciou ao povo a vinda do Reino de Deus, perguntaram-lhe: "Quem és tu? És o prometido Messias?". Ele respondeu: “Não sou o Messias”. Então perguntaram-lhe: “És o Elias?” Ele respondeu: “Não sou”. [Cf. João 1:19–21.] Estas palavras demonstram claramente que João, filho de Zacarias, não era o prometido Elias.

Mas no dia da transfiguração no Monte Tabor, Cristo disse explicitamente que João, filho de Zacarias, era o Elias prometido. Em Marcos 9:11, lemos: “Foram então perguntar a Jesus: «Porque é que os doutores da lei dizem que Elias tem de vir primeiro?» Jesus respondeu: «É verdade que Elias vem primeiro preparar tudo. Mas porque será que as Escrituras dizem que o Filho do Homem há de sofrer muito e ser desprezado? Pois eu afirmo que Elias já veio e fizeram-lhe tudo o que quiseram, como está nas Escrituras a respeito dele.»” E em Mateus 17:13 diz-se: “Os discípulos compreenderam então que Jesus se referia a João Baptista.”

Então, perguntaram a João Batista: “Tu és Elias?” e ele respondeu: “Não sou”, enquanto no Evangelho está escrito que João era o próprio Elias prometido, e Cristo também o afirmou claramente. Se João era Elias, porque é que disse que não era? E se não era Elias, porque é que Cristo disse que era?

A razão é que consideramos aqui não a individualidade da pessoa, mas a realidade das suas perfeições — isto é, as mesmas perfeições que Elias possuía tornaram-se reais também em João Baptista. Assim, João Baptista era o prometido Elias. O que está aqui a ser considerado não é a essência, mas os atributos. (‘Abdu’l-Bahá, Some Answered Questions, newly revised edition, pp. 149–150)

Vamos analisar mais detalhadamente as provas por detrás da admirável explicação de ‘Abdu’l-Bahá’. No Evangelho de João, foram colocadas três questões distintas a João Baptista:

Questão (e resposta) nº 1:

E este é o testemunho de João, quando os judeus mandaram, de Jerusalém, sacerdotes e levitas para que lhe perguntassem: Quem és tu? E confessou, e não negou; confessou: Eu não sou o Cristo. (João 1:19-20)

Questão (e resposta) nº 2:

E perguntaram-lhe: Então quê? És tu Elias? E disse: Não sou. (João 1:21a)

Questão (e resposta) nº 3:

És tu profeta? E respondeu: Não… E perguntaram-lhe, e disseram-lhe: Por que baptizas, pois, se tu não és o Cristo, nem Elias, nem o profeta? (João 1:21b, 25)

Estas três questões, duas das quais são mencionadas por ‘Abdu’l-Bahá no excerto anterior, surgem da expectativa, no tempo de Cristo, não de um Messias, mas de três messias: (1) o Rei messiânico (um governante como o Rei David); (2) o sacerdote messiânico (regresso de Elias); (3) e o profeta messiânico (o regresso de Moisés).

Isto é comprovado por evidências nos Manuscritos do Mar Morto (aproximadamente 150 a.C.– 68 d.C.), que falam do tempo futuro quando “o profeta virá, e os Messias de Aarão e de Israel”. (*)

A “cristologia” cristã primitiva — crenças sobre a identidade de Jesus — via Jesus como todos os três messias num só. Por outras palavras, Jesus era o rei, sacerdote e profeta messiânico combinados num só. Isto significa, na perspectiva das expectativas messiânicas na época de Jesus, que ele foi visto pelos seus primeiros discípulos como o “regresso” de Moisés, enquanto João Batista, segundo o próprio Jesus, foi o “regresso” de Elias: “E, se quereis dar crédito, este é o Elias que havia de vir”. (Mateus 11:14)

Por isso, deixem-me contar-vos o que aconteceu logo depois de ter terminado de ler a anterior explicação de ‘Abdu’l-Bahá: fiquei atordoado — completamente atónito! Esta profunda percepção espiritual sobre o que significa o “regresso” de Elias (e, portanto, de Cristo) foi tão surpreendente para mim que experimentei este espanto tanto no corpo como na alma. Depois de perceber de repente o que significa “regresso”, caí na minha cama e comecei a hiperventilar de surpresa e espanto.

Queria contar aos meus pais espirituais a minha descoberta pessoal ao vivenciar esta realização espiritual. Eram cerca das 2h da manhã; estava frio e húmido em Parkland, Washington (bairro onde se situa a PLU). Enquanto deambulava pelas ruas, coloquei as mãos sobre a cabeça e puxei-a com força para baixo, para não flutuar no ar! Sim, estava tonto. Mas, nessa altura, pensava que era mais leve do que o ar.

Sentia-me espiritualmente elevado num transporte místico.

Fui a casa dos meus pais espirituais. Atirei algumas pinhas macias à janela do quarto deles para os acordar. Eles não acordaram. Foi isso. Regressei ao meu humilde quarto alugado.

Ao contar esta história, espero que percebam o quão seriamente eu considerava para esta questão do significado do “regresso” de Cristo. (Eu ainda considero)

Portanto, para resumir, os ensinamentos Bahá’ís apresentam um novo entendimento do “regresso” de Cristo. Não é um regresso literal de Jesus Cristo. Porquê? Porque isso seria reencarnação — uma doutrina estranha ao Cristianismo, histórica e doutrinariamente.

Tal como João Batista, de acordo com a própria Bíblia, viria “no espírito e poder de Elias” (Lucas 1:17), Bahá’u’lláh veio “no espírito e poder” de Jesus Cristo; é nisto que acreditam os Bahá’ís.

Este entendimento sobre o “regresso” tem implicações profundas para perceber o que os Bahá’ís querem dizer quando se referem a Bahá’u’lláh como o “regresso” de Cristo.

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(*) NOTA: Os Manuscritos do Mar Morto (aproximadamente 150 a.C.–68 d.C.) falam do tempo futuro em que três messias aparecerão: ou seja, “o profeta vem, e os Messias de Aarão e Israel” (“Regra da Comunidade”, 1QS 9:9–11; ver “Antologia Messiânica”, 4QTestimonia (ou 4Q175 ou 4QTest) e paralelos).

Os textos bíblicos que comprovam esta tripla expectativa messiânica são os seguintes: (1) o Rei messiânico: Nm 24,15-17; (2) o Sacerdote messiânico: Dt 33,8-11; (3) o Profeta messiânico: Dt 18,18-19. (Ver John C. Poirier, “The endtime return of Elijah and Moses at Qumran” [O regresso de Elias e Moisés em Qumran, no fim dos tempos], Dead Sea Discoveries 10.2 (2003): 221-242, p. 223).

Embora haja certeza se os essénios que escreveram os Manuscritos do Mar Morto estavam realmente à espera do "regresso" do Rei David, eles certamente esperavam o "regresso" de Moisés e Elias.

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Texto original: The “Return” of Christ: What Does it Mean? (www.bahaiteachings.org)


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Christopher Buck (PhD, JD), advogado e investigador independente, é autor de vários livros, incluindo God & Apple Pie (2015), Religious Myths and Visions of America (2009), Alain Locke: Faith and Philosophy (2005), Paradise e Paradigm (1999), Symbol and Secret (1995/2004), Religious Celebrations (co-autor, 2011), e também contribuiu para diversos capítulos de livros como ‘Abdu’l-Bahá’s Journey West: The Course of Human Solidarity (2013), American Writers (2010 e 2004), The Islamic World (2008), The Blackwell Companion to the Qur’an (2006). Ver christopherbuck.com e bahai-library.com/Buck.

sábado, 3 de maio de 2025

Que livros Bahá'ís devo ler?

Por David Langness.


Quanto mais ler, mais coisas saberá. Quanto mais aprender, a mais lugares irá. (Dr. Seuss)

Ler é o único meio através do qual nos apropriamos, involuntariamente, muitas vezes sem esperança, da pele, da voz e da alma de outra pessoa. (Joyce Carol Oates)

Que milagre é que, a partir destes pequenos quadrados de papel, planos e rígidos, se desdobram mundos e mais mundos, mundos que vos cantam, confortam, acalmam ou emocionam. Os livros ajudam-nos a compreender quem somos e como nos devemos comportar. Mostram-nos o que significam a comunidade e a amizade; mostram-nos como viver e morrer. (Anne Lamott)

No site www.bahaiteachings.org, recebemos constantemente estas três perguntas: Os Bahá’ís têm um livro que eu possa ler, um único volume, como a Bíblia ou o Alcorão? Que livro Bahá'í contém mais informação? Quero saber mais, então que livros Bahá’ís devo ler?

Bem, tem muito por onde escolher. As Escrituras Bahá'ís contêm uma enorme diversidade de estilos, recursos e assuntos — tratados místicos e poesia; livros de aconselhamento espiritual, percepção e sabedoria; textos sobre a mudança social e os princípios Bahá'ís; livros de leis e exortações; orações e meditações; mesmo narrativas inspiradoras da história Bahá'í e biografias de pessoas extraordinárias que arriscaram a vida pela primeira vez para seguir uma Fé tão revolucionária.

O próprio Bahá'u'lláh escreveu mais de cem volumes, e as Suas revelações ocorreram ao longo de quatro décadas. O seu filho, 'Abdu'l-Bahá, escreveu três livros, e os Seus discursos públicos, cartas e epístolas estão em muitos outros livros. O Guardião da Fé Bahá’í, Shoghi Effendi, traduziu vários livros para inglês, escreveu um livro sobre a história Bahá’í e escreveu também mais de 17.000 cartas, incluindo longos ensaios, tratados, monografias e compilações sobre uma vasta gama de assuntos relacionados com a Fé Bahá'í, muitos dos quais já foram publicados como livros completos.

Por todas estas razões, os Bahá'ís referem-se frequentemente às volumosas, extensas e profundas Escrituras Bahá'ís como tendo a profundidade e a extensão de um oceano:

As coisas divinas são demasiado profundas para serem formuladas em palavras comuns. Os ensinamentos celestiais são expressos em parábolas para serem compreendidos e preservados para as eras vindouras. Quando quem tem uma mente espiritualmente orientada, mergulha profundamente no oceano do seu significado, traz à superfície as pérolas do seu sentido interior. Não há maior prazer do que estudar a Palavra de Deus com uma mente espiritual. (‘Abdu’l-Bahá, ‘Abdu’l-Bahá in London, p. 80)

Estes textos — as obras líricas e belas de Bahá'u'lláh e 'Abdu'l-Bahá — constituem as Escrituras Bahá'ís. Os Bahá'ís consideram estas obras como os seus livros sagrados e consideram-nas um oceano de palavras, orientação e sabedoria enviadas pelo Criador:

Esta é a Voz de Deus, se apenas ouvirdes. Este é o Amanhecer da Revelação de Deus, se apenas o soubésseis. Este é o Local de Alvorada da Causa de Deus, se o reconhecêsseis. Esta é a Fonte do mandamento de Deus, se apenas o julgásseis com justiça. Este é o Segredo manifesto e oculto; oxalá o pudésseis perceber. Ó povos do mundo! Rejeitai, em Meu nome que transcende todos os outros nomes, as coisas que possuís, e mergulhai neste Oceano em cujas profundezas jazem ocultas as pérolas da sabedoria e da expressão, um oceano que surge em Meu nome, o Todo-Misericordioso. (Gleanings from the Writings of Baha’u’llah, XIV)

Se está apenas a começar a conhecer os ensinamentos Bahá'ís e gostaria de começar a mergulhar no oceano das Escrituras Bahá'ís, pode começar pelo livro curto, único e poderoso de aforismos espirituais de Bahá'u'lláh, chamado "As Palavras Ocultas". Nele, Bahá'u'lláh escreveu:

É isto que desceu do reino da glória, proferido pela língua do poder e da força, e revelado aos Profetas da antiguidade. Tomámos a sua essência interior e vestimo-la com o traje da brevidade, como sinal de graça para os justos, para que permaneçam fiéis à Aliança de Deus, cumpram nas suas vidas a Sua confiança e, no reino do espírito, obtenham a joia da virtude Divina. (The Hidden Words, p. 3)

Se quiser realizar um estudo mais extenso das Escrituras Bahá’ís, siga as recomendações de leitura do Guardião a dois visitantes do Centro Mundial Bahá’í na Terra Santa:

Shoghi Effendi recomendou um estudo intensivo do "Kitab-i-Iqan [O Livro da Certeza], de Bahá'u'lláh, e "Respostas a Algumas Perguntas", de 'Abdu'l-Bahá. Estes livros recompensarão através do estudo aprofundado, o domínio, e mesmo memorização de certas partes. Também é bom ler livros contemporâneos, seleccionando os melhores, que abordem os mesmos temas, a fim de se familiarizar profundamente com o assunto, e ser capaz de esclarecer os ensinamentos Bahá'ís. "Os Rompedores da Alvorada", uma narrativa dos primeiros acontecimentos do movimento Bahá'í recentemente traduzida por Shoghi Effendi, também recompensará o estudo cuidadoso. (Mabel and Sylvia Paine, Star of the West, Volume 10, p. 144)

Como se pode constatar por este conselho, Shoghi Effendi aconselhou os Bahá'ís a estudarem cuidadosamente três livros: "O Livro da Certeza", de Bahá'u'lláh; "Respostas a Algumas Perguntas", de 'Abdu'l-Bahá; e a história de Nabil, "Os Rompedores da Alvorada". Mas também recomendou a leitura ampla e extensiva de livros novos e contemporâneos, e não se focar apenas nas Escrituras Bahá'ís. Os Bahá'ís acreditam que devem preocupar-se principalmente com o que beneficiará a humanidade, porque os Escrituras Bahá'ís encorajam todos a instruírem-se constantemente nas áreas mais úteis do esforço humano.

Quando navegar no oceano das Escrituras Sagradas Bahá’ís, lembre-se de uma coisa: procure os significados interiores, simbólicos e espirituais em cada passagem:

As Palavras divinas não devem ser interpretadas de acordo com o seu sentido exterior. São simbólicas e contêm realidades de significado espiritual. Por exemplo, no livro dos Cânticos de Salomão, lemos sobre a noiva e o noivo. É evidente que não se pretende significar a noiva e o noivo físicos. Obviamente, isto são símbolos que transmitem um significado oculto e interior. Da mesma forma, as Revelações de S. João não devem ser interpretadas literalmente, mas sim espiritualmente. Estes são os mistérios de Deus. Não é a leitura das palavras que vos beneficia; é a compreensão dos seus significados. Por isso, orem a Deus para que sejam capazes de compreender os mistérios dos Testamentos divinos. ('Abdu'l-Bahá, The Promulgation of Universal Peace, p. 458)

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Texto original: What Baha'i Books Should I Read? (www.bahaiteachings.org)


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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site www.bahaiteachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA

sexta-feira, 2 de maio de 2025

Lua Getsinger (1871-1916)

Neste dia (2 de Maio), em 1916, Lua Getsinger falecia subitamente aos 43 anos, vítima de insuficiência cardíaca, quando se encontrava no Egipto.

Nascida numa zona rural do Estado Nova Iorque, Lua Getsinger tornou-se uma das primeiras crentes ocidentais quando aceitou Fé Bahá’í em 1897. No ano seguinte integrou o primeiro grupo de peregrinos ocidentais que visitou a Terra Santa e esteve na presença de ‘Abdu’l-Bahá.
Lua tornou-se uma discípula proeminente de 'Abdu'l-Bahá, que a intitulou "Arauta da Aliança" e "Mãe dos Crentes" e “Mãe Instrutora da Comunidade Bahá’í Americana”. Durante a visita do Mestre aos Estados Unidos, Lua esteve presente em muitos dos eventos mais marcantes dessa visita.
O seu envolvimento nas actividades Bahá’ís foi extenso e tornou-se uma figura influente na divulgação da Fé nos Estados Unidos, em França, no Canadá, Índia, Austrália, Nova Zelândia e Argentina. Também exerceu uma influência profunda em alguns dos primeiros crentes, como May Bolles (mãe de Rúhíyyih Khánum), Laura Barney (autora do livro Respostas a Algumas Perguntas), Louis Gregory e John Henry Dunn. Também se destacou na forma como enfrentou os violadores da Aliança.
O seu falecimento repentino chocou muitos amigos próximos. ‘Abdu’l-Bahá apenas tomou conhecimento da morte de Lua passados quatro meses (devido a problemas de comunicações durante a guerra), e revelou uma oração de visitação em que afirma:
Ó Senhor, concede-lhe um palácio próximo da Tua mais Grandiosa Misericórdia; faze-a habitar nos jardins do Teu paraíso, o Altíssimo, ilumina o seu semblante com o esplendor da Tua complacência no Reino da Tua Glória…

sábado, 26 de abril de 2025

As profecias provam alguma coisa?

Por Christopher Buck.


Todos nós já ouvimos falar de falsas profecias; mas, e as verdadeiras? As profecias verdadeiras são profecias genuínas — aquelas que realmente cumprem uma visão real do futuro.

É claro que as profecias podem ser cumpridas por várias pessoas e podem ser cumpridas mais do que uma vez. É preciso fé e discernimento para distinguir entre afirmações verdadeiras e falsas sobre o cumprimento das profecias.

As falsas profecias que analisámos até agora nesta série de artigos foram muitas vezes escritas após os factos. De um modo geral, as verdadeiras profecias são de natureza mais genérica. Regra geral, quanto mais detalhada e específica for a profecia, mais duvidosa poderá ser e, por conseguinte, exigirá uma verificação mais minuciosa.

As verdadeiras profecias realizam-se quando um verdadeiro profeta, que fala a verdade ao poder, proclama que a profecia se cumpriu. Os estudiosos da religião designam essa declaração como afirmação da verdade. A verdade ou falsidade de uma dada afirmação de verdade não pode ser determinada objectivamente, em termos gerais. Em vez disso, se uma afirmação é amplamente aceite pelos seguidores de uma fé, então é geralmente considerada verdadeira.

Algumas profecias - sobretudo as militantes - serviram até de carne para canhão para os líderes revolucionários e para as revoluções que lideraram.

Para evitar interpretações erradas, devemos primeiro determinar se uma profecia é literal ou figurada (i.e., simbólica).

Um discurso pode ser literal, ou figurado, ou ambos. Normalmente estas duas características combinam-se no discurso. O discurso literal - quando o falante pretende que as suas palavras sejam interpretadas literalmente - significa que não há necessidade de interpretação envolvida. No discurso literal, as palavras significam o que dizem e as palavras dizem o que significam.

O discurso figurado é diferente. Mais uma vez, as palavras significam o que dizem, mas nem sempre dizem o que querem dizer. Por exemplo, considere-se as seguintes palavras de Jesus:

Mas Jesus respondeu: «Vão lá dizer a essa raposa que eu expulso espíritos maus e faço curas hoje e amanhã, mas ao terceiro dia termino. (Lc 13:32)

Aqui, Jesus está a falar do Rei Herodes, e chama-lhe “raposa”. Obviamente, Jesus não o quis dizer literalmente. Os leitores compreendem intuitivamente que Jesus está a falar metaforicamente. Por outras palavras, Jesus usa uma metáfora.

Quando aplicado ao Rei Herodes, a palavra “raposa” é entendida como referindo-se ao carácter do Rei, que entendemos como astuto, esperto, manhoso, trapaceiro, evasivo, tortuoso, evasivo, dúbio, falso, enganoso, dissimulado, indigno de confiança, desonesto e traiçoeiro. Esta interpretação, no entanto, pode estar errada. Como diz um estudioso:

Ao tentar compreender o que Jesus disse, a questão crítica para o tradutor é que ideia ele [Jesus] transmitiu aos seus ouvintes através do uso da metáfora “Herodes é uma raposa”. Em particular, qual era o ponto de semelhança que Jesus estava a estabelecer entre uma raposa e Herodes? …

Jesus não pretendia que os seus ouvintes compreendessem que Herodes era astuto quando respondeu lhe disseram de que Herodes o queria matar. Em vez disso, estava a comentar a inépcia ou incapacidade de Herodes para cumprir a sua ameaça. Jesus questionou a linhagem, a estatura moral e a liderança de Herodes, rebaixando-o e colocando-o no seu devido lugar. …

Esta conclusão está de acordo com a compreensão da metáfora conhecida como teoria da metáfora conceptual, onde a metáfora “Herodes é uma raposa” é vista como uma extensão de uma metáfora mais básica, “As pessoas são animais”. No Antigo Testamento há outra extensão da metáfora básica “As pessoas são animais”, ou seja, “O rei é um leão” (ver, por exemplo, 2 Sam 17.10; Pv 19.12; 20.2; 28.15), mostrando que esta é uma metáfora reconhecida no hebreu bíblico.

Assim sendo, é muito provável que quando Jesus se referiu a Herodes como "essa raposa", aqueles com quem estava a falar tivessem em mente a metáfora básica habitual para um rei e reconheceriam imediatamente que, ao utilizar a metáfora "Herodes (o rei) é uma raposa", Jesus pretendesse transmitir que Herodes estava em extremo contraste com alguém que se conformava com o seu conceito normal de rei: "O rei é um leão". (E.A. Hermanson, “Kings are Lions, but Herod is a Fox: Translating the Metaphor in Luke 13.32,” The Bible Translator, pp. 235, 237)

Bahá’u’lláh afirmou que as profecias são um “teste”, de tal modo que só os puros de coração podem verdadeiramente perceber a natureza da profecia em si e a verdade do seu cumprimento. No Livro da Certeza, Ele escreveu:

Sabe tu, em verdade, que o propósito subjacente a todos estes termos simbólicos e alusões abstrusas que emanam da Causa sagrada dos Reveladores de Deus tem sido testar e provar os povos do mundo, para que a terra dos corações puros e iluminados se distinga do solo árido e perecível. Desde os tempos imemoriais esse tem sido o caminho de Deus entre as Suas criaturas e disto dão testemunho os registos dos livros sagrados. (¶53)

Assim, em vez de provarem verdadeiras ou falsas, as profecias provam se o entendimento do leitor é verdadeiro ou não. Ou seja, o propósito das verdadeiras profecias, segundo Bahá’u’lláh, “tem sido testar e provar os povos do mundo”.

Isto leva-nos a uma questão importante: por que razão são utilizadas metáforas nas Escrituras? Segundo Hermanson, “a metáfora é frequentemente utilizada porque é a forma mais precisa pela qual o autor pode expressar o que quer dizer, e não apenas para efeito retórico”.

Com estes princípios interpretativos em mente, o próximo artigo considerará o regresso de Jesus. O que “regresso” realmente significa é mais bem compreendido pelo que não significa, como ‘Abdu’l-Bahá explicou:

Mas voltemos ao nosso tema original. Nos Livros Sagrados e nas Sagradas Escrituras é mencionado de um “regresso”, mas os ignorantes não conseguiram compreender os seus significados e imaginaram que se referia à reencarnação. Pois o que os Profetas de Deus queriam dizer com “regresso” não é o retorno da essência, mas dos atributos; não é o regresso do próprio Manifestante, mas das Suas perfeições.

No Evangelho é dito que João, filho de Zacarias, é Elias. Com estas palavras não se quer dizer o regresso da alma racional e da personalidade de Elias no corpo de João, mas sim que as perfeições e os atributos de Elias se tornaram claros e manifestos nele. (Some Answered Questions, newly revised edition, p. 333)

Portanto, regresso não é reencarnação. No próximo artigo desta série, exploraremos o que significa realmente o regresso.

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Texto original: Do Prophecies Prove Anything? (www.bahaiteachings.org)


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Christopher Buck (PhD, JD), advogado e investigador independente, é autor de vários livros, incluindo God & Apple Pie (2015), Religious Myths and Visions of America (2009), Alain Locke: Faith and Philosophy (2005), Paradise e Paradigm (1999), Symbol and Secret (1995/2004), Religious Celebrations (co-autor, 2011), e também contribuiu para diversos capítulos de livros como ‘Abdu’l-Bahá’s Journey West: The Course of Human Solidarity (2013), American Writers (2010 e 2004), The Islamic World (2008), The Blackwell Companion to the Qur’an (2006). Ver christopherbuck.com e bahai-library.com/Buck.